segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Também quero meu final feliz.

    Semana passada me perguntaram por que eu me denomino sapatão e não lésbica, eu respondi rápido que achava que sapatão era mais impactante do que lésbica e que me sentia mais sapatão do que lésbica mesmo. Fiquei com esse questionamento depois por um tempo pensando quando eu comecei a me denominar sapatão e quando eu larguei o lésbica. A verdade é que eu nunca me senti empoderada com a palavra lésbica e acho que por pouquíssimo tempo usei pra falar da minha sexualidade.

    Antes de conseguir assumir que eu gostava de mulheres eu me assumia como bissexual. Isso tem um peso muito grande na minha vivência, por muitos anos eu me forcei a ter relacionamentos com homens cisgêneros por achar que mulheres lésbicas não poderiam ter finais felizes. Eu cheguei a essa conclusão por todos os seriados e filmes lésbicos que eu assisti em que, no final, sempre acontecia alguma coisa que uma das mulheres morria, ou então elas se separavam e seguiam caminhos diferentes - isso quando uma delas não acabava se relacionando com um homem cis por descobrir que “foi só uma fase” (sic). 


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

E a representatividade, cadê?

    Antes de podermos falar de sapatão ou da nossa representatividade dentro de um movimento pelo direito de sexualidades não-hétero, precisamos contextualizar a situação das mulheres de uma forma geral. A sociedade estruturalmente foi feita pra oprimir, deslegitimar e privar as mulheres de direitos básicos como ir e vir, ter controle sobre o próprio corpo e dizer quem que devemos amar e de quem devemos desgostar. Decidem por nós que as outras meninas são nossas inimigas e que os meninos que puxam nossos cabelos gostam de nós, só não sabem lidar com esse sentimento. Além de toda problemática em criar competição entre as mulheres, cria uma ideia de que nós somos ruins, que nós merecemos sofrer porque o homem que nos maltrata nos ama.

    Durante minha vivência de vinte anos enquanto mulher cisgênera eu lembro de pouquíssimas mulheres que me dei ao luxo de confiar antes do feminismo. O amor, mesmo que fraternal, entre as mulheres é constantemente deslegitimado, duvidado, pisado ou fetichizado (ou tudo ao mesmo tempo). Ser mulher é ser dada como falsa, como interesseira, burra e um objeto de recreação que pode ser usado e logo depois descartado. Diante disso temos um quadro alarmante pras mulheres (héteros, bi, pan, assexuais, lésbicas e outras sexualidades) e a situação dentro do movimento por direito das sexualidades não-hétero é mais precária ainda.