sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Bissexualidade e Luta, por Gabriela Ewerton

    Quando eu pedi para escrever para esse blog, eu não sabia muito bem o que eu queria compartilhar, mas sabia que eu precisava tentar falar sobre a minha experiência e vivência como uma mulher bissexual.

    Aceitar a minha orientação foi algo problemático, não porque eu não fui aceita dentro do meu círculo familiar ou dos meus círculos de amizades, mas porque eu mesma não acreditava que eu pudesse sentir atração por mais de um gênero, então como eu poderia me assumir e lutar pela aceitação das outras pessoas? Eu precisei desconstruir todo o discurso imposto que eu precisava escolher “um lado”, que eu só poderia ser hétero ou lésbica, não poderia existir outra coisa, eu não poderia ser “indecisa”.

    Mas eu não sou indecisa, eu não preciso escolher nada, eu sinto atração por mais de um gênero e não existe discurso nenhum que possa invisibilizar ou querer mandar na MINHA orientação.

    Eu estou em um relacionamento lésbico e isso me tornou um alvo ainda maior de bifobia, muitas vezes dentro do movimento LGBT, pois querem que eu acredite que eu fiz minha escolha, querem apagar a minha orientação baseando-se no relacionamento em que eu me encontro. Não é porque eu me apaixonei por uma mulher que eu deixei de sentir atração pelo outro gênero, ninguém tem o direito de impor uma orientação para mim.

    Eu ainda tenho o sentimento de fraqueza por muitas vezes não saber lidar com as situações, por não me impor e tentar desconstruir expressões bifóbicas que são proferidas para mim. Nunca vai ser fácil, sempre existirá um momento em que não teremos mais tanta força para encarar esse mundo tão preconceituoso em que vivemos, mas é por isso que eu resolvi escrever: porque eu quis mostrar que não estamos sozinhas em nenhuma luta, que temos pessoas que vivem situações parecidas com as nossas e que estão aí para dar apoio e força para seguir a luta.

    E por isso que eu ainda tenho aquele sentimento de esperança, por isso que eu não desisto, porque eu acredito que um dia a minha luta mudará o mundo e que um dia poderemos amar e ser o que quisermos sem precisar dar explicação, sem sofrer nenhuma opressão.



    Gabriela Ewerton é mulher negra bissexual, militante do PSOL e do Juntas!. 

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