quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Resistência Lésbica

    Eu estava rolando pela minha timeline quando surge a notícia com "Jovem é mantida em cárcere privado pelo pai ao contar que namora mulher". Isso me abalou tanto que eu tive que parar, sentar e respirar fundo pra não cair no choro. Eu imagino quantos casos desses não são abafados, quantas mulheres não têm a chance de sobreviver a esse tipo de violência e não consigo segurar mais o choro. Eu choro por mim, por toda agressão que já sofri e por toda que ainda posso sofrer. 

    Não quis escrever sobre lesbofobia por um tempo porque sei que esse assunto é difícil de falar. Não é difícil por não ter histórias, mas sim por ter histórias demais, por ter sofrimento e muita dor. Às vezes me pego chorando e pensando que independente do que faça nunca vou ser vista como um casal com outra mulher. Nunca vão me respeitar enquanto namorada, noiva, esposa de outra mulher. Vão deslegitimar e duvidar do meu relacionamento constantemente.

    Eu tento sem sucesso ignorar as agressões e violências cotidianas, como homens achando que meu corpo é propriedade deles, piadas lesbofóbicas, pessoas deslegitimando meu namoro com perguntas como quem é o homem da relação? , e outras coisas que são menos sutis e muito mais agressivas. Chego no fim do dia exausta e desgastada, deixo isso pra lá e vou acumulando toda a tristeza e frustração. Deixo acumular até o dia que choro no telefone com a pessoa que namoro e choro tudo. Choro tudo que já passou, minhas inseguranças e meu medo de acontecer alguma coisa com uma de nós duas.

    Sou uma pessoa bem combativa, admito, e talvez esse seja um dos meus defeitos ou melhor qualidade. Eu não sei ser paciente e didática com pessoa heterossexual falando que  amaria ser lésbica . Ser lésbica não é brincadeira. Não é fácil conseguir se desprender das amarras do patriarcado e se assumir lésbica. Ser lésbica não é só ai que maravilha não se relacionar com homens cis. Demorei no mínimo seis ou sete anos pra conseguir aceitar que isso não era algo ruim ou que eu não estava errada, e, mesmo hoje como feminista e me autoafirmando sapatão, tenho recaídas, me sinto errada e suja. 

    Também não consigo ter paciência com homens cis gays que me chamam de racha, quando isso é extremamente misógino e ofensivo. Sou sapatão, sou mulher, não sou uma vagina ambulante pra me chamarem de racha. Minha mulheridade não pode ser resumida a uma vagina. É extremamente degradante ser chamada de racha porque esse termo me diminui e me desumaniza. Eu não sou mais uma mulher quando me chamam de racha, eu sou apenas um objeto. Um objeto pelo qual homens cis gays sentem aversão, repulsa. 

    E como se não bastasse tudo isso, tenho que aguentar homens cis héteros deslegitimando minha sexualidade e meu relacionamento. Minha sexualidade nunca foi e nunca será falta de pênis, meu relacionamento não tem nada faltando, não está incompleto e com certeza eu não preciso de um homem pra "brincar" comigo e com a pessoa que namoro. 

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