sábado, 31 de janeiro de 2015

Sobre (meu) relacionamento à distância

 Eu a pedi em namoro quando estávamos bêbadas e ela recusou só pelo prazer de fazer o pedido. Eu aceitei óbvio e logo em seguida decidimos que deveríamos discutir sobre como seria nosso relacionamento: se seria monogâmico ou não. Já havíamos conversado previamente sobre isso e decidido que, caso namorássemos, seria aberto por conta da distância e principalmente porque nós concordávamos que monogamia é falida. Mas naquele momento tão perto dela eu não queria perdê-la ou dividi-la com outras pessoas.

     Parece fofa minha reação, algumas pessoas podem ter suspirado pensando ai que fofas, mantiveram um namoro monogâmico pra não perderem uma à outra, mas nós seguimos em frente com o plano de manter o namoro aberto e eu só tenho a agradecer por isso. Quando eu disse que tinha medo de perdê-la, ela me respondeu com mas você não vai me perder porque eu não sou sua. Apesar disso ter me magoado de primeira, eu percebi com o tempo que ela não é um objeto que um dia eu possa esquecer na casa de alguém, no metrô ou no ônibus pra perder.

     Os primeiros meses serviram de teste se eu conseguiria ou não manter o namoro e se eu saberia lidar com todas nossas muitas diferenças. Ela é um pouco mais velha e madura do que eu e tem uma visão mais aprofundada sobre alguns assuntos, como não-monogamia e feminismo, por exemplo. Nós discutimos muito sobre monogamia e sobre como a ela traz uma falsa ideia de segurança, como se fechar nosso relacionamento fosse impedir que ele terminasse ou que ela pudesse se sentir atraída por outras pessoas.

     A verdade é que não é fechar um relacionamento que diminui as chances dele acabar. A monogamia compulsória traz a falsa segurança de que uma pessoa não vai sentir tesão por outras. Se eu achar uma outra pessoa bonita dentro de um relacionamento monogâmico e falar isso pra quem que estou namorando, ela vai concluir que eu não me sinto mais atraída ou que eu a amo menos por isso. O sentimento é mutável, não podemos paralisar ou controlar o que sentimos. Namorar monogamicamente só leva à culpabilização por sentirem atração ou tesão por outras pessoas fora do relacionamento.

     Namoros e relacionamentos podem acabar por vários motivos e não é a monogamia ou a proximidade física que impedem esse término. Namorar perto não vai fazer com que eu goste mais ou menos da pessoa que eu namoro porque o que me faz amá-la não é somente o toque, mas quem ela é. Parece difícil namorar a distância sem poder abraçar quem você ama todos os dias porque temos a ideia de que precisamos estar no controle da situação. Assim, ver a pessoa todos os dias se torna uma necessidade.

     A gente já está fazendo praticamente nove meses de namoro e durante todo esse tempo o que eu aprendi de mais valioso é que eu sou só minha. Eu não tenho nada faltando e nem preciso que a pessoa com quem eu namoro me complete. O que eu tenho com ela é uma sintonia incrível e nós estamos tentando aproveitar, crescer juntas, compartilhar momentos bons e ruins pra nos ajudar. Antes de sermos namoradas, somos nós completas e inteiras. Somos livres.


Um comentário:

  1. bem bacana o texto, venho pensando em abrir a relação há um tempo e ele me serviu de estímulo :)

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